Quando não mata, engorda.

Tudo mundo odeia e adora aniversário de criança. É verdade. E digo mais, o brigadeiro em festa infantil é sempre mais gostoso. Claro que tem aquelas pérolas que ninguém escapa, mas a meu ver, isso só valoriza o resultado final.

Nos grandes centros, leia-se capitais e regiões metropolitanas, as festas infantis caseiras perderam seu espaço para as casas de festas que transformam o aniversário em um show à parte. Porém preciso dividir com vocês aquela nostalgia, que me é peculiar, e relembrar os aniversários caseiros que muito freqüentei em minha vida.

Tudo começa no dia anterior quando a família inteira é mobilizada para o evento. É mãe na cozinha, jovens na decoração, avó na limpeza e todo o resto sem saber o que fazer. O cheiro de fritura toma conta da sala, são os salgadinhos ficando prontos. Agora é que começa a festa, mesmo sem convidados. É criança metendo a mão no merengue do bolo, tia gorda roubando salgadinhos, avó diabética escondendo uns docinhos... E todo mundo acha que está sendo discreto.

Os convidados são recebidos com pratos descartáveis repletos de salgadinhos. Não importa se você está com fome, você irá comer e comer muito. E também não importa se você não gosta de frango, você irá comer coxinha de galinha sim. Preciso falar dos cajuzinhos...?

Crianças correm pela casa. Os rostos delas ficam num misto de suor, pedaços de salgadinhos e terra. Acho até que é meio que combinado entre a piazada: “Vamos correr durante a festa para dar uma movimentada no ambiente dos adultos.” Definitivamente, criança é muito esperta.

Os assuntos são sempre os mesmos, fulano casou, beltrano divorciou e cicrano morreu. Divididos entre puxões de orelhas nas crianças, salgadinhos e fotos. Ah sim, fotos, um capítulo à parte. Quem botou a regra que todo mundo precisa tirar foto na mesa do bolo? É até anti-higiênico um monte de gente respirando no bolo. Isso sem contar os germes que o aniversariante nos presenteia ao apagar a velhinha.

Falando sério, é ruim, mas é bom demais. Você fala besteiras abertamente, ouve aqueles “causos de família” hilariantes e ainda chega em casa parecendo um boi entupido de comida. São em oportunidades como essa que se exercita o lado família feliz do ser humano. Eu sei, eu sei, é um sentimento estranho esse negócio de gostar e não gostar, mas inexplicavelmente é assim. Ou não é?

Acho que eu daria um dedo para curtir mais festas dessas. Pensando bem, não daria não. Porém é preciso aproveitar, afinal como diz Bruno Mazzeo: “Em aniversário de criança as únicas duas coisas boas ficam proibidas até o final: Comer brigadeiro e ir embora.”

Coluna de hoje inspirada no e-mail da Renata de Camaquã. Sobre o quê você quer ler na semana que vem? Estou esperando o seu contato: falecom@marceloprata.com

Até lá.

1 comentários:

Filipe de Paiva disse...

E seu texto, como sempre, é sensacional. Um retrato - ainda que formado por palavras e não imagens - fiel dessas festas tão insuportavelmente boas. Me bateu uma nostalgia imensa lendo a coluna e me enchi de lembranças da minha infância.

Parabéns! E nos vemos na festa da filha da prima da Marluce. Abraços!

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